Psicopatologia e Análise do Comportamento

OBJETIVO DO CURSO

Informar aos alunos a respeito da concepção que a Análise do Comportamento tem sobre a Psicopatologia, quais os modelos utilizados para as interpretações e intervenções sobre os comportamentos problemáticos.

EMENTA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Aprofundar a compreensão da psicopatologia a partir dos pressupostos da Análise do Comportamento, explorando o desenvolvimento do self e da personalidade e integrando os níveis de seleção por consequências em uma teoria compreensiva e funcionalmente orientada do sofrimento psicológico.

Conteúdo Programático:

Parte 1: Fundamentos da Psicopatologia na Análise do Comportamento e o Modelo Dimensional (3 Horas)

Objetivos de Aprendizagem:

· Definir psicopatologia sob a ótica da Análise do Comportamento, distinguindo-a de abordagens mentalistas.

· Analisar criticamente concepções tradicionais de psicopatologia e suas limitações para a AC.

· Explicar a flexibilidade psicológica como critério central de saúde e sofrimento.

· Descrever o modelo dimensional de psicopatologia e suas vantagens em relação aos modelos categóricos.

· Apresentar o Modelo Bifatorial AC (Dimensão da Seleção e Dimensão da Variação) e seus princípios.

Conteúdo Principal:

1ª Hora: Introdução e Crítica às Concepções Tradicionais

· Psicopatologia Comportamental: Sofrimento como produto da interação organismo-ambiente (não doença intrínseca).

· Subjetividade e Eventos Privados: Parte do comportamento, não sua causa.

· Concepção vs. Teoria: Definir critérios vs. Explicar produção dos fenômenos.

· Crítica às Concepções Comuns: Desvio estatístico, científico, desadaptativo, angústia/incapacidade, desvio social – identificando suas limitações para a AC.

· Atividade: “Reinterpretando o ‘Anormal'” – Discussão sobre reanálise funcional de comportamentos tidos como patológicos.

2ª Hora: Flexibilidade Psicológica e Modelo Dimensional

· Flexibilidade Psicológica: Capacidade de ajuste comportamental às contingências como critério de saúde. Rigidez como base da psicopatologia.

· Modelos Categóricos vs. Dimensionais: Limitações do DSM/CID e vantagens do continuum (Kubo & Botomé) para a AC.

· Psicopatologia como Continuum: Sofrimento como ponto em um espectro de variabilidade comportamental.

· Atividade: “Escalas de Sofrimento” – Aplicação da perspectiva dimensional a vivências pessoais/fictícias.

3ª Hora: O Modelo Bifatorial Analítico-Comportamental

· Dimensão da Seleção (Fator Geral): Processos universais (reforço, punição, extinção) nos três níveis (filogenético, ontogenético, cultural).

· Dimensão da Variação (Fator Específico): Predisposições genéticas, experiências idiossincráticas, contingências culturais que moldam a topografia dos comportamentos.

· Princípios Operacionais: Abordagem transdiagnóstica, sistema comportamental dinâmico, rede de influência recíproca.

· Implicações Clínicas: Foco na análise funcional e em intervenções que fortaleçam padrões comportamentais alinhados aos valores.

· Atividade: “Mapeando Processos Transdiagnósticos” – Identificação de processos comuns em diferentes cenários clínicos.

Parte 2: O Self, Implicações e uma Teoria Abrangente da Psicopatologia (3 Horas)

Objetivos de Aprendizagem:

· Descrever o desenvolvimento do “Eu” (Self) e da personalidade como processos comportamentais.

· Analisar a interação entre sensibilidade filogenética, parentalização e controle verbal na formação do self e vulnerabilidades.

· Identificar processos comportamentais (operantes e respondentes) que contribuem para o sofrimento.

· Explicar como fatores culturais (ex: estresse de minoria) moldam o repertório e a psicopatologia.

· Integrar os níveis de seleção em uma teoria abrangente e funcionalmente orientada da psicopatologia.

Conteúdo Principal:

4ª Hora: O Desenvolvimento do Self e sua Relação com a Psicopatologia

· Personalidade e Self na AC: Repertórios cumulativos e meta-comportamento verbal-relacional.

· Desenvolvimento do Eu: Etapas (conteúdo, processo, perspectiva), papel do apego e segurança ontológica.

· Práticas Educativas Parentais: Influência no controle verbal (pliance, tracking, augmenting) e formação de estilos parentais.

· Interação Filogênese-Parentalização: Como sensibilidades inatas e estilos parentais se combinam para criar vulnerabilidades.

· Atividade: “Cenários de Desenvolvimento do Self” – Hipóteses sobre o desenvolvimento do self a partir de combinações de sensibilidade e parentalização.

5ª Hora: Processos Comportamentais nos Níveis Filogenético e Ontogenético

· Nível Filogenético: Variações na sensibilidade a estímulos (magnitude, latência, limiar). Teoria da Sensibilidade ao Reforçamento (RST – Gray & McNaughton).

· Nível Ontogenético – Operantes:

o Dificuldades com Operações Motivadoras.

o Dificuldade na Discriminação de Variáveis Sinalizadoras.

o Dificuldades no Desenvolvimento de Comportamentos Efetivos (rigidez, frequência, topografia).

o Ambiente Empobrecido (incontrolabilidade, desamparo aprendido).

o Contingências Conflitantes (reforço imediato vs. punição tardia).

· Nível Ontogenético – Respondentes:

o Condicionamento Respondente (pareamentos aversivos/apetitivos).

o Inibição Latente (filtragem de estímulos).

· Atividade: “Análise Funcional de um Comportamento Problema” – Aplicação dos conceitos filogenéticos e ontogenéticos a um caso hipotético.

6ª Hora: Nível Cultural e Integração para uma Teoria Abrangente

· Nível Cultural: Fatores sociais e estruturais na psicopatologia.

o Desigualdades, Estresse de Minoria (estigma, microagressões).

o Efeitos do Estresse de Minoria: Desamparo aprendido, estresse crônico, invalidação social, esquiva experiencial, supercompensação, hipervigilância.

· Conflitos entre Níveis: Descompasso cultural-biológico, alienação (Skinner).

· Teoria Abrangente da Psicopatologia: Síntese dos três níveis de seleção (filogenético, ontogenético, cultural) como um modelo de causalidade sistêmico e histórico.

· Role do Terapeuta: Membro da comunidade verbal, fortalecimento do controle privado, validação.

· Atividade: “Desenvolvendo uma Formulação de Caso Integrada” – Construção de uma formulação de caso AC complexa, integrando os três níveis de seleção.

BIBLIOGRAFIA

Pedro, M. R. D., Zamignani, D. R., Weydmann, G., & Banaco, R. A. (s.d.). O desenvolvimento da personalidade e do self da infância à adolescência.

Zamignani, D. R., Rossi, A., Banaco, R. A., Sanábio, E., & Neto, D. (s.d.). Modelo de psicopatologia da TAC.

Skinner, B. F. (1974). About Behaviorism.

Pérez-Álvarez, M. P. (1986). La Psicoterapia desde el Punto de Vista Conductista.

Hayes, S. C. (2004). Acceptance and commitment therapy, relational frame theory, and the third wave of behavioral and cognitive therapies.

Maddux, J. E., & Winstead, B. A. (2019). Psychopathology: Foundations for a Contemporary Understanding.

Souza, J. dos S. et al. (2022). Desfechos negativos em saúde mental de minorias de sexo e de gênero… Perspectivas Em Análise Do Comportamento.

(Uma lista mais extensa e detalhada de referências estará disponível no material de apoio do curso.)

CORPO DOCENTE

Coordenação geral:

Anna Queiroz (CRP 06/93698)

Professores da disciplina:

Denis Roberto Zamignani – CRP 06/520887

Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo; psicólogo e mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Analista do comportamento acreditado pela Associação Brasileira de Ciências do Comportamento – ABPMC. Docente do Programa de Mestrado Profissional em Análise do Comportamento Aplicada no Instituto Par Ciências do Comportamento. Diretor acadêmico da Comunidade DíadeLab – plataforma digital de ensino em análise do comportamento, onde coordena junto a Gabriel Cândido o curso de especialização em Terapia Analítico-Comportamental – Terapia Baseada em Processos. É sócio da ABPMC desde 1994, da qual é atualmente membro do Conselho Consultivo. Coordenador do Laboratório de Estudos de Processo-Resultado em Terapia Analítico-Comportamental (TACn1) no Instituto Par. Fundador da REDETAC – Rede de Colaboração Interinstitucional para a Pesquisa e o Desenvolvimento das Terapias Analítico-Comportamentais. Membro da ALAMOC – Asociación Latinoamericana de Análisis, Modificación del Comportamiento y Terapia Cognitiva Conductual. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em intervenção terapêutica, pesquisa em psicoterapia e formação profissional do psicólogo, atuando principalmente nos seguintes temas: terapia analítico-comportamental, pesquisa de processo-resultado em psicoterapia, estresse de minoria e população LGBTQIAPN+ e ensino de análise do comportamento.

Roberto Banaco – CRP 06/14985

Psicólogo graduado pela PUC-SP, mestre e doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Professor e pesquisador no Instituto Par-Educação. É ex-presidente e membro vitalício do Conselho da Associação Brasileira de Ciências do Comportamento – ABPMC, de onde é acreditado como Analista do Comportamento. Membro eleito do Conselho da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP). Membro da REDETAC – Rede de Cooperação para a construção de evidências em Terapias de base analítico comportamental. Membro da ALAMOC – Asociación Latinoamericana de Análisis, Modificación del Comportamiento y Terapia Cognitiva Conductual. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Tratamento e Prevenção Psicológica, atuando principalmente nos seguintes temas: análise do comportamento, análise experimental do comportamento, terapia analítico-comportamental, terapia comportamental e análise do comportamento aplicada.

Notas Importantes

A realização do curso está condicionada ao número mínimo de inscrições